17 e 18/08/2013 - Boituva, a cidade dos ventos uivantes, estávamos por lá para mais uma etapa do Audax São Paulo. Agora em busca do Brevet 400.
"Os ventos que às vezes tiram
algo que amamos, são os
mesmos que trazem algo que
aprendemos a amar...
Por isso não devemos chorar
pelo que nos foi tirado e sim,
aprender a amar o que nos foi
dado. Pois tudo aquilo que é
realmente nosso, nunca se vai
para sempre..."
Bob Marley
Os preparativos:
Os treinos, a
alimentação, o psicológico e o descanso começam muitos dias antes de dar a
largada para uma etapa do Audax e para esses 413 km não foi diferente. Às vezes
batia aquela vontade de não fazer nada, às vezes a vontade de comer algo fora
da dieta, muitas vezes a vontade de pegar a MTB e sair pedalando na terra e
assim fui levando a preparação.
Na semana que
antecedeu a etapa, (falo etapa, pois Audax não é o melhor tempo é a conclusão
dentro de um tempo) foi hora de treinar o descanso e arrumar as tralhas. A
previsão do tempo fez com que eu levasse comigo uma carga de 2,5 kg de itens
para encarar o frio da madrugada.
Fiz uma “gambiarra”
e instalei um bagageiro na speed e coloquei um “mini-alforge” na qual atendeu
em 100% as expectativas!
Já em Boituva,
arrumei tudo para o pedal e também já deixei tudo pronto para a volta pra casa.
Como imaginei acabar o pedal destruído, não queria que arrumação de mala fosse
um problema. No jantar, como meus amigos Daniel Uehara e Richard Porcel ainda
não tinham chego por conta de problemas no trânsito infernal da capital
paulista, tive o prazer de conhecer outros bicicleteiros, Cezar Cattani, Sandro
Marchette, Auro Shimahara e Fausto Augusto todos encarando o brevet 400. Jantar
serviu pra nos conhecermos melhor e trocarmos experiências.
Voltamos para o
hotel para assistir a palestra de Roberto Trevisan representando a Randonneurs
Brasil e falando sobre a categoria. Já eram quase 22:00 quando abandonei a
palestra para tratar de ir dormir pois a última preparação antes da prova era
de tentar dormir e levantar as 04:50 do sábado.
O brevet:
Começo este tópico
afirmando, “nunca pedalei até o momento uma distância tão longa na mesma pegada
e com vento tão forte e arrebatador como foi nessa etapa dos 400 em Boituva!!”
Já era certo e
estava concentrado de que comeria sem ter fome, beberia sem ter sede e
pedalaria para ser constante e não para chegar primeiro.
Dia 17/08 05:30 – Neste horário começaram as vistorias
e decidimos nos arrumar e já estar na praça para ela e após, voltaríamos para o
hotel para o café da madrugada reforçado.
Dia 17/08 07:00 – Foi realizado o breaffing e logo após, a largada. Como este seria o meu quinto
brevet e como também já havia pedalado este trecho da Castelo Branco, já sabia
que não podia me empolgar com a possibilidade de “sentar o pé” pois iria
pedalar 413 e não 40 km. Fui numa tocada suave, sem forçar e cheguei ao PC 01
com média de 28 km/h.
Dia 17/08 09:44 – Foi neste horário que cheguei no
primeiro ponto de controle e por lá fiquei apenas 10 minutos. Reabasteci de
água, comi algo salgado e frutas... Zarpei... neste momento, encontro o Daniel
San chegando. Sem parar de pedalar, trocamos umas ideias e continuamos no
pedal.
Dia 17/08 12:22 – Chego no PC 02. No trecho passo a pedalar com
o Vitor e fomos mantendo a média na casa dos 28~29 km/h. Nesta parada fomos
comer um salgado e aproveitei para tomar água de coco e ir no “wanderley”.
Esperamos por 40 minutos pelo Daniel, que não apareceu. Deixei recado na mesa
organizadora e seguimos então para Bauru.
Dia 17/08 15:27 – Chego ao PC 03 na cidade de Bauru.
Saímos juntos do PC anterior, porém, Vitor parou para tirar a segunda pele e eu
segui no caminho. Ele fez outra parada para auxiliar um amigo com pneu furado.
Com isso fiz este trecho sozinho. Como era de dia, fui sem grandes problemas e
ainda mantendo a média.
Neste PC, logo em seguida
chega Vitor e fomos almoçar. Aproveitei novamente para tomar mais água de coco
e comi uma porção de purê de batatas com filé de peixe (Proteína e
carboidrato).
Agora sim, só saio
daqui depois que o Daniel chegar!!!! E o
nobre companheiro chegou, foi comer alguma coisa também. Enquanto eu o
esperava, lubrifiquei a corrente, tomei meus venenos, fiz alongamentos e massageei
as pernas.
Antes dele acabar de
almoçar, Vitor seguiu seu caminho junto com o Morenno (mais tarde falo sobre
ele) e Daniel San me falou “Jota, se quiser seguir no seu pedal, manda ver,
pois encontrei um amigo que está no mesmo ritmo que eu e vamos juntos”. Eis que
surge o meu erro, sai em disparada para tentar alcançar o Vitor e não consegui,
o que consegui foi gastar forças desnecessária e forças essas que fariam falta
no final.
Dia 17/08 20:50 – Demorou mais cheguei ao PC 04.
Começa a saga “que vento é esse”.
Foi um absurdo de
vento totalmente e exclusivamente contra, contra a tudo e a todos!!! Foram
praticamente os 206 km de volta para Boituva com rajadas de vento contra nós.
Situação que mesmo em trechos totalmente planos, estávamos pedalando com força
e a magrela não passava dos 10 km/h.
Neste PC aproveitei
para tirar as tais tralhas do mini alforge e me proteger do vento e do frio
congelante que passou a fazer naquela noite. Também foi neste PC que começamos
a ser mimados pela organização com sopas e macarrão bem quentes e fora as
palavras de motivação.
Na saída deste PC
fomos juntos eu, Vitor Lopes, Rodrigo Morenno e Wilson Poletti.... também
falarei mais sobre eles no próximo tópico.
Homenagem a Igor Gabia que este foi o último Brevet deste garoto que nos deixou por conta de uma tentativa de assalto seguida de atropelamento (Igor, o quarto da direita para a esquerda) |
Dia 18/08 03:38 – Último PC antes do final, conhecido
como PC 05.
Chegar nele não foi
nada fácil!!! Deus sempre sabe o que faz e desta vez colocou esses personagens
que citei anteriormente em meu caminho, pois eu nunca passei por uma situação
dessas.
Na madrugada e no
trecho que ligava o PC 04 ao 05 me bateu um sono terrível e juntando com o
desgaste físico, frio e vento, passei por momentos complicadíssimos e que se
não fosse a parceria destes guerreiros eu não teria brevetado e vencido este
desafio.
Todos me ajudaram,
mais o mister Wilson foi sensacional!!! Conversava comigo e tudo mais. Teve um ponto
da Rod. Marechal Rondon, na qual faltavam 5 km para sairmos dela e pegaríamos a
Castelinho, e ao passarmos em frente a uma Base da Polícia Rodoviária um dos
guardas nos chamou e nos serviu um café que era “chafé e sem açúcar” mais
acreditem, foi o melhor café dos últimos tempos!!! Nisso o amigo Morenno também
chegou com outro parceiro o Vini (não sei se escreve assim) e dali também
saímos juntos. O Vitor, sei lá do cara, sumiu na frente e não o vimos mais.
Pra falar a verdade
eu não estava com tanto problema físico mais sim o sono estava acabando comigo
e me deixando sem coordenação na pedalada o que tornava um risco, visto que
estávamos pedalando em rodovias com grande fluxo de caminhões e ônibus.
Quando saímos da
Marechal Rondon foi um grande alívio e uma conquista e nos 22 km de castelinho
que pegamos, continuei a minha luta com o sono. Quanto chegamos no topo da
Serra de Botucatu, no pedágio da Castelo Branco, decidi e falei aos parceiros “Amigos,
daqui não saio sem antes tirar um cochilo de uns 20 minutos! Essa serra é
perigosa e eu nessa situação a torna mais perigosa ainda. Se quiserem seguir
fiquem a vontade”!
Nesse ponto pararam
três carros da organização e lembro-me muito bem que me deram um baita
incentivo e tratamento. Ofereceram-me lanche salgado na qual comi escondido do
vento, atrás da roda de um Corsa estacionado. Ao comer dei uma melhorada e optei
em seguir com os amigos, pois faltavam apenas 20 km para chegarmos no PC e no
PC eu decidiria o que fazer.
Quando lá chegamos,
a organização nos preparou um belíssima sopa e foi sopa de verdade, daquelas
que a mãe fazia pra gente quando faltávamos no serviço por conta de estar
doente. Comi e na mesma mesa, empurrei o prato e apaguei! Acredito ter dormido
quase meia-hora, quando o parceiro Wilson me chamou... E ai mano, vamos nessa?
Dia 18/08 09:06 – BREVETAMOS, chegamos ao PC 06 que
era o final.
Mais não foi tão
fácil assim... saímos do PC 05 somente eu e o Wilson e fomos lado a lado o
tempo todo. Ora um ia um pouco pra frente e esperava um outro, ora empurrávamos
uns 150~200 metros para aliviar a musculatura, cara que parceiro!!! Vimos o
nascer do sol já quase chegando em Boituva.
Não passei sede,
porém neste trecho precisei racionar pra não secar e fomos levando e brigando
com o vento que insistia em não nos deixar.
Chegando no final,
pra variar, fomos muito bem recebidos pela galera que ali estavam e ao receber
a medalha foi algo sensacional!
As dificuldades
foram muitas, as alegrias foram maiores ainda. Amigos não tiveram a mesma sorte e
alegria de completar a prova, mais já são campeões pelo simples fato de ter
tido a coragem de enfrentar um desafio desse.
Só desiste quem
tenta e quem não conseguiu, apenas adiou a conquista!!
Dedico essa medalha
á todos os parceiros que por algum motivo não alcançaram o êxito nessa etapa,
tenho certeza de que são guerreiros e que não vão parar por ai, vamos juntos!!!
“Sozinho vamos mais
rápido, juntos iremos mais longe”
Distância: 413 km
Tempo: 26h03
Nenhum pneu furado
Nenhuma compra de
terreno (mais foi quase)
Muitas novas
amizades
JOTA 5 x 0 AUDAX